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sábado, 23 de fevereiro de 2013

Braços que se estendiam



"Teus ombros suportam o mundo e
 ele não pesa mais do que a mão de uma criança"
 Carlos Drummond de Andrade



No começo era simples. Os braços se estendiam às possibilidades que lhes eram oferecidas. E ficou sendo assim por um longo tempo. Até chegar o dia em que os braços resolveram se estender uns aos outros. Os braços resolveram se abraçar. Anseio pelo alheio, talvez. Em alguns casos, uma minoria braçal conseguiu forjar um toque leve, tímido. Já em outros, há quem diga que certos braços foram com muita sede ao pote, sufocaram-se. Eu ouvi dizer que havia um braço que ao tocar alguém mudava lindamente de forma. Também ouvi rumores de que outros perdiam totalmente a forma; tornavam-se amorfos. Não posso atestar qual a veracidade dos fatos, vários foram os que me contaram estórias de braços que se estendiam: cada um me apresentou uma versão diferente. Cada braço era um braço diferente. Às vezes, eram pares. Em outras, formavam pares ou até mesmo díspares. Na estória de Machado de Assis os braços seduziam e tinham nome: Severina.  Na de Michelangelo, os braços se estendiam languidamente sob a veste de um metonímico nascimento. Na da biologia, os braços são membros superiores: inferiorizam os que os locomovem. Hoje eu deixo aqui a minha versão. Os braços que se encontram pendidos ao lado deste texto estenderam-se em demasia. Cansaram-se. Ontem eles doíam pulsantes. Hoje, rígidos, carimbam de vermelho uma nova versão de uma velha estória.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Noturna


No meio da noite ela se deita.
Ao almejar o escuro, sonha.
O luar a consola à espreita.
Os seu medos se deitam na fronha.

Soturna, ela nega o próprio sono.
Noturna, faz dele o seu único dono.


sábado, 9 de fevereiro de 2013

Quando o bloco passar


O céu colorido.
O chão dolorido.
Os olhos mascarados.
Os sentidos embriagados.
As vontades se revelam repentinas.
Eufóricos, confetes transam com serpentinas.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Partindo


Idealizei uma linha reta.
Sem direção pra seguir.
Sem sopro do vento.
Sem despacho na esquina.
Sem fiado no buteco.
Eu fui de carona com o meio-fio.
Esse, fiou-me o destino.



"Porque não é pela via da linguagem que eu hei de
transmitir o que em mim existe. O que existe em mim não há palavra que o diga"

Antoine de Saint-Exupéry