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segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Adeus ano velho, feliz ano novo: a pontualidade do modus operandi

Pergunto-me quem marcou o encontro dos ponteiros do relógio às 24 h do último dia do ano. E se desse encontro surgisse um híbrido enlace entre o ano tido como velho e o ano tido como novo? Oculta metamorfose. Novo e velho se perpassam e se distanciam (assim acreditamos) ao fiarem as teias do tempo. Os ponteiros do relógio, sempre cadenciados, aproximam-se e distanciam-se: tic-tac-tic-tac. Os segundos são mais vívidos, os minutos mais cautelosos, as horas são mais experientes. Todavia, o caminho dos três se encontram no decorrer desses mesmos segundos e também nos minutos, dias, meses, anos e milênios: de fato por todas as vias. Velho e novo cumprimentam-se e talvez façam uma espécie de aceno. Paralelamente, penso se seria pontual o encontro do que fomos e do que projetamos ser. Ao contrário dos ponteiros do relógio (e dos seus encontros, reencontros e desencontros), tendemos a nos distanciar do velho na sagaz busca pelo novo: a meta dos pretensos metamorfos. Adeus ano velho, feliz ano novo, é esse o tic-tac-tic-tac que, anualmente, engendramos. Pergunto-me o que acontece nos intervalos entre as voltas dos ponteiros. Lembro que elas, apesar de padrões diferentes, fazem a mesma rotação. Me lembro que todo ano velho já foi, um dia, ano novo. Ao me deparar com mais um 'fim de ano', não sei se me despeço ou, de bom grado, faço saudações. Não sei se faço saudações ou se me despeço de bom grado. Sinto um estalo que me atravessa, em sentido horário, a mente e o peito: tic-tac-tic-tac.



terça-feira, 21 de outubro de 2014

O suor, as lágrimas e as gotas de chuva



Descem.
Escorrem.

Quem garante que
as águas de chuva
não são lágrimas
 a descer do céu?

E se por um tormento
o suor precisasse
de um rosto para fazer
desse o seu réu?

Descem.
Escorrem.

As gotas de chuva
são um choro suado
da terra.

Hidrantes da matriz
onde, um dia,
todas as águas
se encontrarão.

Sem escoamentos.



sexta-feira, 20 de junho de 2014

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Variáveis constantes




Eu silencio.
Calo.
Em intervalos não-verbais
Com o olhar eu falo.

Eu silencio.
Paro.
Em cordas não-vocais
Eu me apoio, eu me amparo.


Eu silencio.
Grito.
Em um eco centrípeto
Eu lavro o meu escrito.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Três vezes matéria



"Não te desamparem a benignidade e a fidelidade;
ata-as ao teu pescoço;
 escreve-as na tábua do teu coração."
Provérbios 3:3

Estranha. Demasiado estranha. Ex-tranha. Essa foi a tríade que se moldou em forma de pensamentos. Foi também a legenda de um reflexo que se dividiu em três lampejos. Três foram os dias em que ela se isolou do mundo. Tridimensional foi a facada que ela desferiu em seu próprio peito. Bem no coração: o cerne da questão. Três foram os póstumos toques na campainha. Três foram os murros na porta. Três foram os passos que ele deu de distância para conseguir impulso. Três foram as tentativas de arrombamento. Três foram os gritos que ele soltou ao se agarrar ao corpo. Três foram as lágrimas que ele deixou cair em seu rosto.  Três foram os participantes do triângulo amoroso. O terceiro foi o número primo: amante incestuoso. Ela foi a estranha ponta de uma tríade nada equilibrada. Até hoje não se sabe o paradeiro do seu ex-traído-marido. Tricolor e em caixa alta foi a forma como a tragédia estampou os jornais. Três foram os dias em que se falou no assunto. Três foram os minutos gastos por quem leu a notícia. Três foram os segundos entre o embolar do papel e o arremesso ao cesto de lixo.

"Porque não é pela via da linguagem que eu hei de
transmitir o que em mim existe. O que existe em mim não há palavra que o diga"

Antoine de Saint-Exupéry