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segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Deste lado



Doses de uísque não esquentaram-me o peito.
Dentro de mim, do cowboy fez-se gelo.
Solidificou-se por inteiro.
Desceu rasgando todo o meu apelo.


domingo, 16 de dezembro de 2012

Insignificável

Dos caminhos que costumavam se encontrar
restaram as curvas: semáforos com vistas turvas.

Das angústias restaram pequenos versos:
forjado encontro de sentimentos dispersos.

sábado, 10 de novembro de 2012

Relance



A sombra do que não foi à frente.
A luz do que ainda virá, persistente.
A veste escura da pior morte:
o manto que cobre o desejo da sorte.
A porta que leva aos caminhos da rua:
o vento que toca a pele sempre nua.
Entre idas e vindas eu vou.
Entre vindas e idas eu sou.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Um sábado qualquer





Pela passarela passou sozinha. Não era uma top model; apenas dirigia-se para a estação do metrô. Por alguns segundos, teve a companhia de uma chuva suave. Essa tocou o seu rosto delicadamente (melhor do que muitos homens o haviam tocado). Girou a sua sombrinha para deixar cair as pequenas gotas daquela amistosa chuva que, naquela altura, já havia partido. De repente, vislumbrou um céu indeciso que se abria na Via Expressa. Parou. Fotografou. Partiu. O restante do caminho o trem urbano já conhecia.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Cigana

O chá esquenta o frio do peito.
O vento acaricia o calor da alma.
A claridade ilumina até o menor defeito.
O destino se perde entre as linhas da palma.

Aberta.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Distúrbio


Ela atirou.

Inalou a pólvora
como se fosse ópio.

Ensaiou um suspiro.
Pouparei os detalhes sórdidos.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Quando morri pela segunda vez



Afirmação?
Pergunta?
Confundo pontuações.
Já vi ponto final em começo de frase.
Já vi exclamação abrindo parêntese.
Não a vi fechando-o.
Isso tudo aconteceu quando morri
pela segunda vez.
Sem reticências.
Ferida por interrogações.
Só voltei por uma razão:
do meu epitáfio,
retirem a pontuação.

Deixem somente a poeira.

                                                                                  


quarta-feira, 18 de julho de 2012

Chama (me)


A carne fria.
O espírito quente.
Anestesiada a angústia.
O olhar dormente.

A paisagem cinza.
O caminho escuro.
Acaracia-me, ó brisa.
Guia-me para o que procuro.

Minhas mãos tremem.
O fervor é interno.
Meus medos procuram
o calor deste inverno.

domingo, 8 de julho de 2012

Vírus


- Ela morreu.
- De quê?
- De amor.
- Por quem?
- Por mim.
- Não acredito.
- Eu juro.
- Amor não mata.
- Mata e é viral. O médico me deu três dias de vida.

sábado, 7 de julho de 2012

Durmiente


Yo conozco tus ojos.
Recuerdo tus besos.
Me pierdo a soñar.
Despertando el deseo.

Solo tu eres la noche de mi vida.

terça-feira, 3 de julho de 2012

A persistência da memória


Revisitei o passado. Surpreso, ele abriu-me a porta. Entrei ensaiando frios passos. Reconheci a mobília. Temi a nova decoração. Sentei-me querendo deitar-me. Respirei, suspirei. Forasteira, recuei para a entrada: ela não mais existia. Fui embora pela porta dos fundos. O passado não me pediu para ficar e nem me acompanhou até a saída. Despedi-me. Ele não me respondeu. Chorei sem olhar para trás. Consagrei o rito.

domingo, 1 de julho de 2012

Cinco minutos


Nem sempre o mesmo gosto.
Nem sempre o olhar exposto.
Nem sempre se reconhece o gesto.
Nem sempre se aceita o resto.
Nem sempre se vive o presente.
Nem sempre o medo é recorrente.
Nem sempre se aceita e verdade.
Nem sempre se vive na sobriedade.

Nem sempre se encontra a rota para o País das Maravilhas.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Veredicto


Velhos valores.
Novos vazios.
O vão, o vago.
O que vi, o que vejo.
O velado nivelado.
Vaga vida.

domingo, 17 de junho de 2012

Morfeu, Morfina


Meu coração, acelerado, tentava entoar uma melodia que velasse o teu sono. Meus olhos, paralisados, tentavam penetrar em teus mais secretos sonhos. Meus braços, inquietos, imaginavam-se abraçando e embalando o teu corpo. Meus lábios, sedentos, desejavam revisitar os traços do teu rosto. Eu já não sabia se era noite ou se era dia. Apenas te olhava, enquanto dormias.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Para Joana


E de repente, no fim de um dia cansativo, ainda arrumo fôlego para relembrar a minha infância. Sigo a lógica cronológica e me vejo adolescente (aborrecida e aborrecente), num salto do tempo vejo-me adulta. Vejo-nos. Quando fico triste (mania que não perco) lembro-me de você, e de tudo que compartilhamos. Lembro-me das nossas alegrias, das nossas irreparáveis perdas e dos nossos choros abraçados. Lembro-me também dos nossos corações partidos. Acho melhor esquecer. Não preciso entrar em detalhes; você é íntima da minha fala. Na verdade, na minha voz há a sua voz, as minhas mais profundas lembranças também são as suas. Há quem nos conheça de verdade, há quem não nos conheça nem um pouco, mas, no final das contas, o importante é que nós duas nos conhecemos; reconhecemo-nos. Fazemos do plural um lindo singular. Alguns amigos se vão, outros reencontram o caminho e voltam e alguns simplesmente ficam. Esses últimos, são os que acabam se tornando parte de nós. Saudosismos e filosofias à parte, te amo!

terça-feira, 12 de junho de 2012

Antes do fim


Eu me esquecerei dos teus olhos.
Exilarei os teus beijos.
Mutilarei teus abraços.
Exorcizarei meus desejos.

Eu matarei o teu gosto.
Apagarei o teu rosto.
Beberei o morto.
Celebrarei o desgosto.

Encontrarei o inverso do sim.
Dentro de mim.
Antes do fim.

Roads

I would like to know what happens before the end.






domingo, 10 de junho de 2012

Lullaby


I dream and forget the pain.
No loss, no gain.
I just close my eyes.
Can I make up the lies?
It’s late, but I wait for you.
Someday, we’ll be true.
There, summer or fall,
for my name you’ll call.

Who'll sing my lullaby?
Who'll sing my lullaby?

Viciados


Eu a conheço há anos.
Hoje, somos dois estranhos.
A nossa sede se esconde.
A alucinação nos corresponde.
A redenção nos faz feliz.
Dividimos a mesma cicatriz.
Ela é a minha abstinência.
O amor; a nossa penitência.
A pureza dela se perdeu.
O pior vício dela sou eu.

sábado, 9 de junho de 2012

Transeunte


O fim.
O recomeço.
Dentro de mim,
o que desconheço.
A permanência
da culpa.
Minha inconsequência.
Minha desculpa.
As vozes do não.
As trapaças do perdão.
A ideologia do belo.
A sensatez do paralelo.
O medo da verdade.
As máscaras da realidade.
Os ecos da fala.
O poder do que me cala.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Suicida



Eu sinto a falta.
Reconheço a culpa.
Convido-me ao exílio.
Faço desse o meu abrigo.
Recorro ao espelho.
Estudo o meu reflexo.
Olho em meus olhos.
Eles choram.
Acaricio os meus pulsos.
Eles me respondem.
Sangram.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Observa(dor)


Eu vislumbro os movimentos dela.
Enquadro-os em minha janela.
Através das lentes em meus olhos
palpitam os meus impulsos.
Embaço-me com lágrimas
quase secas.
Sinto a solidão.
Forjo a minha escuridão.
Confidencio-me com as cortinas.
Anestesio as minhas retinas.
Clamo pelo meu sono.
Deito nele o meu abandono.

sábado, 2 de junho de 2012

(in)posto


Declarei o meu amor na receita federal.
Do meu medo pedi isenção.
Prestei o meu tributo,
Mostrei o meu atributo.
Joguei-me na boca do leão.
Que seja eterno o que é anual.

Conhecida escuridão




Minha sombra, para mim, é bela.

Sozinha, apoio-me nela.
Dividimos os mesmos caminhos.
Bondosa, ela acolhe os meus espinhos.
Minha sombra, minha companheira.
Sempre disposta, sempre inteira.
Ela cuida dos meus reflexos
(às vezes por demais complexos).
Sob o sol ela se mostra rasa.
Mas à noite ela me leva pra casa.

"Porque não é pela via da linguagem que eu hei de
transmitir o que em mim existe. O que existe em mim não há palavra que o diga"

Antoine de Saint-Exupéry