"Teus ombros suportam o mundo e
ele não pesa mais do que a mão de uma criança"
Carlos Drummond de Andrade
No começo era simples.
Os braços se estendiam às possibilidades que lhes eram oferecidas. E
ficou sendo assim por um longo tempo. Até chegar o dia em que os braços resolveram se estender uns aos outros. Os braços resolveram se abraçar. Anseio pelo alheio, talvez.
Em alguns casos, uma minoria braçal conseguiu forjar um toque leve, tímido. Já
em outros, há quem diga que certos braços foram com muita sede ao pote, sufocaram-se. Eu ouvi
dizer que havia um braço que ao tocar alguém mudava lindamente de forma. Também ouvi rumores de que outros perdiam totalmente a forma; tornavam-se amorfos. Não posso atestar qual a
veracidade dos fatos, vários foram os que me contaram estórias de braços
que se estendiam: cada um me apresentou uma versão diferente. Cada
braço era um braço diferente. Às vezes, eram pares. Em outras, formavam pares ou até mesmo díspares. Na estória de Machado
de Assis os braços seduziam e tinham nome: Severina. Na de Michelangelo, os braços se estendiam
languidamente sob a veste de um metonímico nascimento. Na da biologia, os braços são membros superiores: inferiorizam os que os locomovem. Hoje eu deixo aqui a
minha versão. Os braços que se encontram pendidos ao lado deste
texto estenderam-se em demasia. Cansaram-se. Ontem eles doíam
pulsantes. Hoje, rígidos, carimbam de vermelho uma nova versão de
uma velha estória.