PrêmioTop Blog. Clique para votar!

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Hip.no.si.a




Antes fosse o balançar sincronizado
de um cordão e um pingente.

Antes fosse o piscar esperançoso
de um olhar dormente.

Antes fosse a alma a velar um sono
 sonâmbulo, doente.

Antes fosse o sonho a se perpetuar
na gente.

Só.
 Só mente. 
Somente.

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Um flash


Bebidas. Cigarros. Frio. Uma avenida falsamente iluminada por lâmpadas e isqueiros. Um pisca-pisca colorido personifica a efemeridade das coisas. Traz a lume uma falsa realidade colorida. Ela se encontra distante, elevada e escondida em meio a nuvens turvas. Mas ao se revelar, ilumina a escuridão de um dia encoberto pela noite. Ela que muda de forma. Ela que se esconde. Ela que em mim se espelha. Ela que me ilumina. Ela, a lua.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

De profundis





Percalços descalços da memória
alterados pelo medo e pela culpa.
Pesadelos que sonhamos acordados.

Consciência perturbada.

A hora está marcada.
A rota está traçada.
Não estarei presente
no dia do juízo final.


“De profundis clamavi ad te, Domine."

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Cisco




Espreite
a forma como

o  v e n t o  l e v a  a   p o e i r a...

e

como

ela

fica

mais

l e v e...

antes de se entregar aos teus olhos desatentos.

sábado, 24 de agosto de 2013

A palavra que habito


Eu escrevo um poema e peço que ele me ampare.
Peço que ele me suporte.
Peço que seja meu par.
Peço que me leve.
Peço
que
ele
me
leve.
Peço que me faça morrer no mundo.
Peço que ele me faça existir em forma de palavras.
Eu escrevo um poema e peço que ele me responda.
Peço que seja a parte arrancada do meu coração.


domingo, 18 de agosto de 2013

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

In vitro



O veneno corre
nas veias,
nas lembranças.

O veneno escorre
dos lábios,
dos olhos.

O veneno mata
o peito,
a alma.


E torna-se antídoto
para uma Julieta sem Romeu.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Pirotrágico



Ao riscar o fósforo ele traçou o destino.
O destino do corpo dela.
Ao fechar a porta ele trancou os gritos.
Os gritos do corpo dela.
Ao arregalar os olhos ele aumentou as chamas.
As chamas do corpo dela.
Ao soluçar ele assoprou as cinzas.
As cinzas do corpo dela.
Ao enxugar as lágrimas ele escondeu as pistas.
As pistas do corpo dela.
Ao dormir ele esfriou a cena.
A cena do corpo dela.
Ao acordar deparou-se com o drama.
O drama do corpo dela.
Ao se despedir do corpo ele amaldiçoou o seu nome.
O seu nome no corpo dela: Prometheus.

sábado, 13 de julho de 2013

Que o vento seja leve


A dor me tomou.
A dor líquida.
Daquela que liquida.
E se mostra sólida.
E te deixa só.
E te faz pó
à mercê do vento.
E te faz de experimento:
um ferido catavento.
Cata-vento.
Cata, vento...






quarta-feira, 12 de junho de 2013

Uma lápide nonsense


A palavra “dor” é injusta. O que é injusto dói. O que é, as vezes, não é. Existem “as vezes” que duram para sempre. E outros que duram para o nunca. “Nunca te vi, sempre te amei” é o nome de um filme. Eu assisti. Nossa vida cabe num filme? Há coisas que não cabem numa vida. Há vidas que não tem cabimento. Há lágrimas que não tem caimento. Desculpe pela rima. Parece uma sina, mas isto não é um poema. “Por quem os sinos dobram” é uma passagem de uma meditação de um poeta metafísico. Virou um livro, o prefácio desse livro e duas canções. Também virou outras coisas que desconheço. A dor escrita e musicada se torna universal? Por mais que os sinos dobrem não saberei se é mesmo por mim. Hora marcada? Fuso-horário? Desperta(dor)? Ainda haverá o reino de Hades? Há de se descobrir. Mas e o sentido de tudo isso? O sentido é de quem sentiu. Assim a dor se faz sentido. Se faz sentida. A dor não recebe justa causa. Mas se disfarça como veste de uma causa justa.

domingo, 26 de maio de 2013

sexta-feira, 3 de maio de 2013

terça-feira, 23 de abril de 2013

Os Outros



Hoje me veio em mente um filme: “Os outros” (The Others). Suspense de 2001 ambientado em um mundo bélico e sombrio. Uma mãe se muda com os filhos para uma mansão isolada. Hábitos doentios são criados. Portas (que não são as da percepção) não são abertas. A luz do sol se torna uma ameaça. 

Voltando para o nosso também ficcional mundo, permito-me lançar a pergunta: quem seriam, de fato, Os Outros?

Os Outros são aqueles que julgamos. São os amores platônicos que idealizamos. Os Outros não somos nós. Não são pluralizados. Não são conjugados: são julgados “in absentia” como traduz o termo latino (usualmente empregado com jurisprudência). Os Outros são representações que criamos mentalmente. São o nosso "desconhecimento".

Mas continuo a indagar quem seriam Os Outros. Será que um dia os conheceremos? Seriam Os Outros a personificação de mentiras que nos cegam? No supracitado filme, Os Outros eram mortos que ainda viviam. No mundo real, Os Outros são aqueles que excluímos com a pretensa ilusão de uma objetiva proteção. Os Outros são o que não podemos ser. Os Outros são aqueles que não temem a ausência.

 Como já foi dito por Sartre, "O inferno são os outros".

terça-feira, 9 de abril de 2013

Insight





Fechou a porta e sentiu a presença de um vulto. Aproveitou o momento para arriscar uma intimidade. Ao tocar o vazio, viu que o vulto não era um outro. Era o mesmo que outrora fora chamado de reflexo. Apagou a luz. Dormiu uniformemente.

segunda-feira, 11 de março de 2013

Sinas


Calculemos assim:
Dividimos o teu não.
Assassinas o meu sim.
Ao sub(trair), somamos.
Somos cúmplices.
Quo(cientes) da operação.







sábado, 23 de fevereiro de 2013

Braços que se estendiam



"Teus ombros suportam o mundo e
 ele não pesa mais do que a mão de uma criança"
 Carlos Drummond de Andrade



No começo era simples. Os braços se estendiam às possibilidades que lhes eram oferecidas. E ficou sendo assim por um longo tempo. Até chegar o dia em que os braços resolveram se estender uns aos outros. Os braços resolveram se abraçar. Anseio pelo alheio, talvez. Em alguns casos, uma minoria braçal conseguiu forjar um toque leve, tímido. Já em outros, há quem diga que certos braços foram com muita sede ao pote, sufocaram-se. Eu ouvi dizer que havia um braço que ao tocar alguém mudava lindamente de forma. Também ouvi rumores de que outros perdiam totalmente a forma; tornavam-se amorfos. Não posso atestar qual a veracidade dos fatos, vários foram os que me contaram estórias de braços que se estendiam: cada um me apresentou uma versão diferente. Cada braço era um braço diferente. Às vezes, eram pares. Em outras, formavam pares ou até mesmo díspares. Na estória de Machado de Assis os braços seduziam e tinham nome: Severina.  Na de Michelangelo, os braços se estendiam languidamente sob a veste de um metonímico nascimento. Na da biologia, os braços são membros superiores: inferiorizam os que os locomovem. Hoje eu deixo aqui a minha versão. Os braços que se encontram pendidos ao lado deste texto estenderam-se em demasia. Cansaram-se. Ontem eles doíam pulsantes. Hoje, rígidos, carimbam de vermelho uma nova versão de uma velha estória.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Noturna


No meio da noite ela se deita.
Ao almejar o escuro, sonha.
O luar a consola à espreita.
Os seu medos se deitam na fronha.

Soturna, ela nega o próprio sono.
Noturna, faz dele o seu único dono.


sábado, 9 de fevereiro de 2013

Quando o bloco passar


O céu colorido.
O chão dolorido.
Os olhos mascarados.
Os sentidos embriagados.
As vontades se revelam repentinas.
Eufóricos, confetes transam com serpentinas.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Partindo


Idealizei uma linha reta.
Sem direção pra seguir.
Sem sopro do vento.
Sem despacho na esquina.
Sem fiado no buteco.
Eu fui de carona com o meio-fio.
Esse, fiou-me o destino.


sábado, 26 de janeiro de 2013

Percurso



Espelhei-me no rio e
deixei que caísse 
uma lágrima.
Essa desviou-se.
Não reconheceu-se 
na matéria líquida.
Preferiu cair 
em terra firme.
Fingiu-se sólida.


"Porque não é pela via da linguagem que eu hei de
transmitir o que em mim existe. O que existe em mim não há palavra que o diga"

Antoine de Saint-Exupéry