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segunda-feira, 28 de maio de 2012

Dramática gramática


Eu conheço o inverso das suas palavras. As afirmativas das suas negativas. As vírgulas do seu ponto final. As exclamações das suas interrogativas e as interrogativas das suas exclamações. Ouço a ausência em suas frases. Observo o improviso da sua coesão. Reconheço a sua ambígua coerência. Encaixo-me entre os seus parêntesis. Às vezes procuro alguma preposição que nos una. Vou mais longe e anseio por dois pontos que nos expliquem. Espero que a primeira pessoa do singular se torne a primeira pessoa do plural. Finjo que sou o seu objeto direto. Tento esquecer que você é um sujeito oculto. Maravilho-me pensando em metáforas. Reconheço a sua voz, sempre passiva. Imagino-te como a minha oração subordinada. Defino-te como o meu artigo indefinido. Finjo que o seu nome não se substitui por um pronome. Tento esquecer as suas reticências. Perco-me na nossa desconhecida gramática. Um dia aprenderei a conjugação do seu verbo.

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"Porque não é pela via da linguagem que eu hei de
transmitir o que em mim existe. O que existe em mim não há palavra que o diga"

Antoine de Saint-Exupéry